IN ILLO TEMPORE
Também há sombras no meio da luz
(Mais uma comunicação das vivências no seminário do Gavião, em que o Fernando relata que nem tudo foi só maravilhas; também fomos vítimas dos erros e defeitos dos nossos professores... AH)
O Manuel Pereira, colega de curso, (entrámos no mesmo ano no Gavião -1946) recordou, no encontro de Castelo Branco, algumas das minhas diabruras de que ele teria sido alvo e que se evaporaram da minha memória, assim como a imagem da figura de Dias da Costa. A anestesia em quatro intervenções cirúrgicas e um ameaço de AVC apagaram muitos registos. Recordo bem os teólogos que se ordenaram, com destaque para José Fernandes Tavares que foi meu monitor e que intercedeu para não ser expulso no final do ano. O meu prefeito era o Pe António Ferreira Miguel que, na avaliação final, me deu 5 a comportamento. Qual era o crime?
Corria eu como um maluco atrás do Duarte Luís num dos corredores, não obedeci à voz de Stop do Prefeito e só parámos nos sanitários, inventando ele que nos tínhamos refugiado na mesma casa de banho. Neguei tal ocorrência ao Vice-Reitor, Cónego Falcão, quando me chamou a capítulo. Foi o colega João Pedroso que, adivinhando o meu sofrimento, me aconselhou: ” - Reconheço a tua inocência, mas, se queres continuar no Seminário, vai confirmar a acusação. Com outros tem acontecido receberem nas férias a carta de expulsão”.
Assim fiz, calando a revolta interior. Mas nunca pude olhar de frente aquele Prefeito. Para ironia do destino, seria ele a substituir-me na paróquia de Oleiros, quando rumei ao Pego (Abrantes).
Desculpem a este octogenário o adolescente traquina que fui.
Fernando Cardoso Leitão Miranda