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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

IN ILLO TEMPORE - fim

30.08.16 | asal

Há mais luz que sombras!

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(Troquei a ordem das palavras de ontem. Acho que tenho razão...Mais episódios de muito interesse que o Fernando Leitão traz para aqui. Novamente, é o seminário do Gavião o centro dos acontecimentos, quando ainda éramos umas criancinhas. Chega a ser enternecedor ler estes textos. AH)

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  A bondade do Pe. Domingos

     O meu pai ficara viúvo, com cinco filhos, todos menores. A situação económica na altura, nada desafogada, mesmo exercendo duas artes (alfaiate e sacristão) só permitia que fosse para casa nas férias grandes. Recordo com carinho e saudade este professor que me chamava petit cochon. Imaginem o que era dormir numa camarata só e pensar que os meus colegas estavam todos no aconchego da família. Um dia acordei com a travesseira algo elevada e descobri que escondia algumas guloseimas. Este meu professor, com este gesto, queria aligeirar o trauma da minha solidão. E para tornar menos doloroso aquele Natal levou-me, como acólito, à missa celebrada na capela particular do Dr. Pequito Rebelo, a que se seguiu um almoço requintado adequado à solenidade da quadra.

 

 

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 Cónego Falcão

 

     De vez em quando lá saíamos, em passeio, para o exterior, para um campo pelado onde se jogava à bola e se fazia o magusto pelo S. Martinho. Anunciada que estava uma dessas saídas, havia que interceder junto do Vice-Reitor para que não faltasse a bola. Na sua conversação, era vezeiro o bordão “coisa” com que a malta delirava e abusava. Naquele dia quem iria pedir o esférico? Como os colegas achavam que eu era o seu menino bonito, deram-me a incumbência da petição. Ao fazê-lo, pedi a coisa para esse dia de diversão. Uma lambada assentou na minha cara e nesse dia não houve bola para ninguém. Mas simpatizava comigo. Com frequência aparecia na

pinca-telescopica.jpgsala de estudo a chamar-me para o acompanhar até ao gabinete. Lá vem mais um castigo, pensava eu. Mas não. Era para apanhar qualquer objeto caído no soalho. Na altura achava estranha a colaboração. Hoje, convivendo com artroses e artrites, não chamo ninguém para me apanhar o que cai. Recorro a uma pinça de pressão que adquiri.

 

   O Vice-Reitor tinha um criado mudo, muito prestável, que via muitas vezes a rachar lenha e que era vítima das nossas traquinices. Para o ver irritado era, em linguagem gestual, dizer-lhe que "o irmão era ladrão e estava na prisão". Ainda hoje sei como se transmitia essa mensagem.

 

Fernando Cardoso Leitão Miranda

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