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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

UM BANCO MUITO ESPECIAL

17.01.18 | asal

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 Mais um excerto do discurso do Prémio Nobel da Paz, Muhammad Yunus; desta vez apresenta o seu banco especial, que todos vamos comparar com a ideia de banco que temos entre nós. Vale a pena! AH

 

BANCO GRAMEEN

 

«Quando me envolvi na questão da pobreza não foi como legislador ou investigador. Envolvi-me porque a pobreza se encontrava à minha volta e não havia maneira de fugir dela. Em 1974 era-me difícil ensinar teorias elegantes de economia na sala de aula da universidade, tendo como cenário a terrível fome no Bangladesh. De repente senti o vazio dessas teorias perante uma fome e pobreza esmagadoras. Queria fazer algo de efeito imediato para ajudar as pessoas à minha volta, mesmo que fosse a um só ser humano, para que pudesse sobreviver melhor, a mais um dia. Deparei-me. Assim, com a luta de pessoas pobres para conseguirem quantias ínfimas de dinheiro que suportassem os seus esforços de sobrevivência. Fiquei chocado ao descobrir, numa aldeia, uma mulher que para obter um empréstimo de menos de um dólar de um usurário, teve que aceitar a condição de lhe dar o direito exclusivo de receber tudo o que ela produzisse, pelo preço que ele decidisse. Isto, na minha opinião, era uma forma de recrutar trabalho escravo.

 

Decidi então fazer uma lista das vítimas deste “negócio” usurário, na aldeia mais próxima da universidade.

 

Quando completei a lista, tinha os nomes de 42 vítimas com empréstimos no total de 27 dólares. Ofereci 27 dólares do meu bolso para libertar essas vítimas das garras daqueles usurários. O entusiasmo gerado por este pequeno gesto fez com que me envolvesse ainda mais. Se eu podia fazer tanta gente feliz, com uma quantia tão pequena, porque não fazer mais?

 

É isso que tenho tentado fazer desde então. A primeira coisa que fiz foi tentar que o banco situado na universidade emprestasse dinheiro aos pobres. Mas não consegui. O banco disse-me que os pobres não eram dignos de crédito. Depois de todos os meus esforços falharem ao longo de vários meses, ofereci-me como avalista dos empréstimos aos pobres. Fiquei espantado com o resultado. Os pobres pagaram os seus empréstimos pontualmente. Continuava, no entanto, a encontrar dificuldades em expandir o programa através dos bancos existentes. Foi então que decidi criar um banco para pobres e, em 1983, consegui, finalmente, fazê-lo. Dei-lhe o nome de Banco Grameen ou Banco de Aldeia.

 

Actualmente o Banco Grameen concede empréstimos a quase 7 milhões de pobres, 97 por cento dos quais são mulheres, em 73 000 aldeias do Bangladesh. O Banco Grameen disponibiliza, sem garantias, empréstimos para criação de rendimento, para habitação, para estudantes e criação de micro-empresas de famílias pobres, oferecendo, também, aos seus membros uma atractiva gama de produtos de poupança, como fundos de pensão e seguros. Desde que foram introduzidos em 1984, os empréstimos à habitação foram utilizados para a construção de 640 000 casas. A posse legal destas habitações pertence às próprias mulheres. Concentrámo-nos nas mulheres, porque descobrimos que os empréstimos concedidos a mulheres traziam sempre mais benefícios para as famílias.

 

De uma forma acumulada o banco já concedeu empréstimos no total de 6 biliões de dólares. A taxa de reembolso dos empréstimos é de 99%. O Banco Grameen gera lucro de forma regular. É financeiramente auto-suficiente e não recebe donativos desde 1995. Depósitos e recursos próprios perfazem 143% do total de empréstimos concedidos.  De acordo com uma auditoria interna do Banco, 58% dos seus mutuários já ultrapassaram o limiar de pobreza.

 

O Grameen começou como um pequeno projecto local gerido com a ajuda de vários dos meus estudante todos, raparigas e rapazes daquela região. Depois de todos estes anos, três desses estudantes continuam comigo no Banco, em cargos executivos de topo, e estão, hoje, aqui para receber esta distinção que nos é dada.

 

Esta ideia que começou em Jobra, uma pequena aldeia do Bangladesh, foi alargada a todo o mundo e hoje existem programas idênticos em quase todos os países.»

 

NOTA: ACABARAM DE LER ESTE TESTEMUNHO. É o momento de enviarem para asal.mail@sapo.pt a vossa inscrição para o Encontro de Linda-a-Pastora (3/02/2018), em que o colega José Centeio falará sobre este tema. Procrastinar é um erro... AH