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Animus Semper

Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Portalegre e Castelo Branco

A crise ambiental

18.11.17 | asal

Meu caro Henriques

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Já sei, pelas fotos e pelo Mendeiros que o tradicional Magusto foi uma beleza. Em todos os aspectos.  Ainda bem.

Aí te envio mais uma humilde colaboração. Penso que o tema merece  reflexão quotidiana, aprofundada e séria. A malvadez do homem já atingiu um tal grau de malvadez que, se não arrepiarmos caminho, a Terra-Mãe vai tornar-se um inferno. Sinais não faltam no Planeta "lixado".

António, todos os dias vou dando uma olhadela pelo nosso Animus. Um ponto de encontro muito especial. Os Presépios da tua irmã foram para mim uma agradável surpresa. Lindas mãos. Em Fátima, nas Irmãs da mesma Ordem religiosa, já adquiri um belíssimo e artístico Presépio que nos tem acompanhado, há mais de dez anos.

Com muita amizade, um forte abraço

f. beirão

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Não matemos a Terra- Mãe

 

Hoje, com exceção do famigerado e truculento Donald Trump que abandonou o Acordo de Paris, todo o mundo tem consciência de que urge respeitarmos a Mãe - Natureza, alterando os nossos comportamentos ecológicos. Importa ter em conta, como ensina o sábio provérbio popular: “se Deus perdoa, a Natureza não perdoa”. Quem as faz, paga-as. Mais cedo ou mais tarde, ela se vingará das ferroadas que lhe damos, a nível pessoal, social ou ecológico.

Se alguém ainda duvidava, neste longo e tórrido verão, pudemos experienciar como o clima extremo ultrapassou todas as marcas. O aquecimento global de que os cientistas nos avisavam, aí está, com toda a acutilância. A falta de chuva que preocupa ainda uma boa fatia da população, tanto as pessoas como os animais e sementeiras, tem contribuído para nos alertar de que algo está a mudar no planeta, com nefastas consequências. Até a nascente do rio Douro se encontra já em estado de seca extrema. Mesmo a colheita da azeitona deste ano, devido à seca e aos fogos, produzirá menos 50% do habitual.

A falta de recursos e as espécies em extinção - referem os cientistas - são sintomas de que estamos a alterar o Planeta Azul de uma forma drástica. Temos de ter consciência viva de que o desastre ecológico arrancou com toda a força, encontrando-se já em estado adiantado.

Já abundam os sinais desta situação no mundo. Enxurradas mortíferas e peixes com plástico nos órgãos, dão-nos conta de que algo está mal. Até a nossa indispensável e saborosa sardinha já não se poderá pescar no próximo ano, como determina a UE.

Tudo isto nos alerta para não continuarmos a poluir a Mãe-Natureza. O preço dos erros dos humanos já é elevadíssimo e a tendência, se não tivermos juízo, será o planeta definhar cada vez mais. Não só os humanos, mas todos os seres viventes e os não viventes.

Recentemente, um filósofo inglês, Timothy Morton, com obra abundante publicada sobre este assunto, veio advertir-nos que “é urgente abandonar a visão antropocêntrica e abraçar um novo paradigma” de entendimento dos problemas ambientais. Em termos geológicos, “já estão aí, na forma de camadas, incluindo os plásticos fossilizados e as camadas, tanto do carbono como das partículas radioativas”. Se, refere ele, na idade-média, Deus era o centro do mundo, com o Renascimento, o Homem tentou ocupar esse espaço. A visão de Martinho Lutero no séc. XVI, muito terá contribuído para tal. Deste modo, o homem convenceu-se que a ele caberia ser o centro do mundo. O individualismo moderno aí está a preencher todo o espaço social. Tudo ao serviço do bem-estar individual, pleno de egoísmo. A Natureza, explorada pelo homem, sem barreiras, a pensar apenas no lucro fácil e abundante, tornou-se a norma civilizacional. Veja-se o caso da destruição na Amazónia, um pulmão do mundo.

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Face a esta situação, o referido filósofo adverte que, se não quisermos destruir a qualidade da nossa vida e do planeta, temos de assumir um novo modelo comportamental. Hoje, avançam os cientistas, já não devemos pensar que podemos manipular e controlar os outros seres que vivem connosco no Planeta, mas, na realidade, tudo se encontra interligado. Todos dependemos de todos, porque somos parte de um todo. Mesmo a existência humana no planeta poderá, em última instância, encontrar-se severamente ameaçada, em agonia, se não mudarmos de comportamento ecológico. Se nada já podemos emendar dos erros passados - e são tantos - urge arrepiar caminho, se quisermos deixar este mundo para os nossos vindouros, com qualidade de vida.

Toda esta reflexão, ainda mais aprofundada, podemos encontrá-la na Carta Encíclica “ Laudato Si” do papa Francisco (24.05.2015) onde se denuncia que “ a terra, nossa casa, parece transformar-se, cada vez mais, num imenso depósito de lixo”...”estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte que afeta tanto os seres humanos excluídos como as coisas que se convertem rapidamente em lixo”

 florentinobeirao@hotmail.com